domingo, 14 de abril de 2013

TIWANAKU...

... como é conhecida modernamente, é um dos grandes centros místicos do mundo, centros de poder de uma outra sintaxe, que continuam vivos ainda hoje pela força de seu intento. Por isso tão perigosos... 

La Paz é uma capital triste como uma primeira impressão, no momento em que cheguei desisti de ficar, subi novamente para a parte alta da cidade, mais pobre e autêntica, arrisquei uma lotação já a noite para Tihuanacu. Depois de certo ponto só ficamos eu, o motorista e outro morador, em meio a escuridão chegamos a cidade. Era o último dia de uma grande celebração anual que dura uma semana e reúne diversas tribos e etnias da região. Todos parecem beber sem parar, uma forma talvez de esquecer seu espírito quebrado pela pressão branca de milênios, certa violência e discriminação no ar. O motorista parece ter percebido e se oferece para procurar uma pousada comigo. Lotadas, em uma, um homem se dispõe a me levar em algum lugar que poderia ficar pela noite, aceito e subo em outro carro, entendi muito pouco do que falaram, não parecia espanhol. Sigo com o carro até perdermos todas as poucas luzes da cidade. Enfim, enxergo uma construção, no meio das trevas, perdida no nada, meu coração está disparado, meu corpo buscando se preparar, pensar, prever, alternativas. Uma mulher de meia idade, índia, abre uma porta que dá para um pátio fechado. Depois de conversar com o homem que me trouxe me faz entrar e fecha a porta atrás de mim sem que eu tivesse entendido nada. A luz de velas me leva até um quarto, a primeira porta a esquerda de um corredor do outro lado do pátio. Dentro há duas camas de solteiro velhas e um pequeno banheiro, sem água, a porta do quarto não fecha. Tento prender a porta como posso, exausto lembro que não comi nada o dia todo, procuro por algumas últimas bolachas salgadas que tinha, estico algumas roupas sujas na cama para me deitar, apavorado demais pra dormir mas o cansaço acaba vencendo. Acordo com sons de homens no pátio, falando, gritando, cantando.., fico escutando no escuro quase sem respirar, escuto quando alguns deles vem em direção ao corredor, passam parecendo estarem bêbados pela porta do meu quarto, seguro meu canivete, um dos homens para em frente a minha porta, vejo a sombra de sua cabeça na pequena janela de vidro da porta, depois do que pareceu uma eternidade o homem vai embora. Acordo novamente com o dia amanhecendo e uma sensação de que lutei uma grande batalha, aliviado saio para o pátio, tudo vazio e silencioso. Descubro uma torneira na rua com água e me lavo, meu corpo todo dolorido, Febre.. Ainda faltam três horas para o sítio arqueológico abrir, descubro que o lugar onde estou dá para os fundos das ruínas, enxergo o Portal do Sol. 

Sou o primeiro a chegar ao sítio, entro pelo museu, meu corpo já arde com a febre...


Esta porta foi talhada em um único bloco de pedra.
A cerâmica é impressionante.





O monolito "Beneth", doze toneladas, Pachamama...

O sol já está forte, são dez horas, saio para a rua para ver as ruínas, lugar desolado, desértico, nada parece crescer aqui. Caminho com dificuldade, estou suando muito, não vi onde comprar água. Este era talvez meu principal objetivo na viajem, Alguns dizem que este centro tem mais de 15.000 anos, os mais ortodoxos falam em 5.000, até 1.000 anos atrás, o tempo não importa, ainda há intento neste lugar, meu ser todo sente, decido continuar, apesar do meu estado deplorável tento ficar atento e alerta.




A pirâmide de Akapana.





Do alto dá para ver todo o centro, a fantástica praça cerimonial semisubterrânea, o grande templo de Kalasasaya, o Portal do Sol no canto superior esquerdo.




Desci para a praça enterrada, sensação incrível ali, um aperto no peito, procurava em vão por uma sombra para me esconder e descansar um pouco. O monolito "Stella", Viracocha, o homem barbado de além mar, o que faziam ali? qual o significado das cabeças nos muros? Queria poder me conectar. Meu corpo todo treme, me esforço para fotografar.




Entro no templo perfeitamente alinhado com as direções cardiais, no solstício de verão o sol entra pela porta principal incidindo sobre o monolito até focar em seu olho esquerdo.






Tanto conhecimento esquecido, perdido? Me ressinto de estar no zero, não no Zero, mas de não poder acessar todo esse conhecimento. O misterioso Portal do Sol e a imagem de Viracocha ao centro, como o Deus Sol, comemoravam o ano novo em 21 de junho, calendário lunar, muito mais sensato.. è impressionante ainda hoje, vontade de pular a corda e atravessá-lo, entendê-lo, mal consigo fotografar, melhor não tocar em nada...






Um 'vento' aparece, forte começa como a me empurrar, sinto-o irritado, apresso o passo o quanto posso, na minha frente vejo se formar um redemoinho de vento e areia, ele começar a se mover em minha direção...



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